Portos e sustentabilidade
O desenvolvimento sustentável é
um desafio para as cidades portuárias. A burocracia e a falta de
recursos para investimento em infraestrutura por parte do Estado
representam uma trava ao setor. Afora isto, a percepção sobre o estágio
de degradação de ecossistemas costeiros e marinhos aumentou
substancialmente nas últimas décadas, sendo a atividade portuária
classificada como de alto potencial poluidor. Não é estranho, assim, o
surgimento de uma gama de conflitos socioambientais quando de empreendimentos do gênero.
Há uma tradição portuária que remonta aos primórdios da colonização.
Não raro, cidades portuárias são cidades históricas onde a atração de
investimentos no setor turístico – prezando-se por baixos índices de
exploração imobiliária e de densidade demográfica – toma precedência. Há
uma relação de interdependência entre turismo, população e meio
ambiente que favorece o desenvolvimento sustentável.
Não se pode
ignorar, no entanto, que investimentos no setor portuário são
necessários, sobretudo, na região norte de Santa Catarina, considerada
tronco modal para escoamento de produção, como também, que a noção de
sustentabilidade deve considerar que o equilíbrio ambiental não
pressupõe que nada seja alterado na natureza. Neste passo, ao lado da
atividade licenciadora e de medidas compensatórias que visem mitigar
possíveis danos ao meio ambiente, assume importância a autonomia
municipal para dispor sobre o ordenamento da cidade, evitando-se privar o
acesso da população local a bens ambientais considerados na sua
importância e avaliando as alternativas existentes.
É bom
lembrar que existe uma ordem hierárquica para o acesso a bens ambientais
que percorre uma escala que vai do local ao mundial, passando
necessariamente pela região, pelo país, chegando, enfim, à comunidade
internacional, fazendo com que a responsabilidade dos atores locais
(governo, empresas, entidades do terceiro setor, comunidades
tradicionais etc) se veja potencializada com as gerações futuras.
Boa parte de conflitos socioambientais advém do entrechoque do uso
vocacionado de bens naturais com o apelo do desenvolvimento econômico.
Em sede de meio ambiente, ao lado do critério da prevenção, a
participação no processo decisório das comunidades possivelmente
impactadas é a chave que decifra o futuro de uma cidade, ampliando a
visão de toda sociedade que se propõe ao desafio de utilizar bens
ambientais para gerar riqueza com sustentabilidade
Emerson Souza Gomes
Advogado e sócio da Pugliese e Gomes Advocacia
emerson@pugliesegomes.com.br
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